Sartori repete Yeda e transfere para o PGQP plano de gestão do governo

(Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini)

A exposição do plano de gestão do governo Sartori foi feita por técnicos do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP) (Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini)

As linhas iniciais do plano de gestão do governo do Estado para 2015 foram apresentadas na tarde da última quarta-feira (21) em uma reunião no Palácio Piratini que teve a participação do governador José Ivo Sartori (PMDB). Segundo nota distribuída pela assessoria de imprensa do Piratini, a exposição do plano de gestão foi feita por técnicos do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP) e acompanhada pelos secretários Carlos Búrigo (Secretaria-Geral de Governo), Giovani Feltes (Fazenda) e Cristiano Tatsch (Planejamento e Desenvolvimento Regional). Ainda segundo o Piratini esse modelo de gestão será apresentado e validado junto às demais secretarias de Estado em outra reunião que será realizada no próximo dia 27 de janeiro, também com a presença do governador Sartori.

Liderado pelos empresários gaúchos Jorge Gerdau Johannpeter e Ricardo Felizzola, o Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade, conforme define a página do PGQP na internet, “atua há 20 anos na promoção da competitividade do Rio Grande do Sul para melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, nos setores público, privado e terceiro setor”. O PGQP participou da criação do Movimento Brasil Competitivo (MBC), também ligado ao empresário Jorge Gerdau, que pretende “levar os conceitos da Qualidade para todos os cantos do nosso país”.

O Movimento Brasil Competitivo já foi objeto de uma polêmica no início do governo Sartori. Integrantes do governo divulgaram, por meio do jornal Zero Hora, um levantamento sobre a situação financeira do Estado feito pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) para o MBC , presidido por Jorge Gerdau. Segundo esse levantamento, as finanças do Rio Grande do Sul teriam um “rombo” de R$ 7,1 bilhões em 2015. Esse número foi contestado pelo ex-governador Tarso Genro e pelo ex-secretário da Fazenda, Odir Tonolier.

Tarso Genro criticou a manchete do jornal Zero Hora, na edição de 16 de janeiro (“Estudo aponta rombo de R$ 7,1 bi no Estado”) e a lógica que estaria por trás da mesma: “A manchete de hoje de Zero Hora não é inocente ou equivocada. Tem o mesmo objetivo político das manchetes que ajudaram outro governador. Ajudaram outro Governador a privatizar, aumentar a dívida pública por não pagar aumentos, a sucatear saúde e educação, a aplicar arrochos. O uso da expressão rombo é uma farsa. Quer induzir que entregamos o Estado numa situação pior do que recebemos. O que é uma mentira deslavada”, afirmou. A bancada do PT na Assembleia Legislativa e Odir Tonollier também criticaram os números da consultoria PwC. Segundo Tonollier, o déficit das contas públicas de 2013 e 2014, somados, não chegaria a 20% do valor divulgado pela empresa de consultoria. “Depois de vários governos, somos os primeiros a não deixar nenhuma conta em atraso”.

Os números da consultoria foram contestados inclusive dentro do governo Sartori. No dia 22 de janeiro, a própria Secretaria da Fazenda já falava de um déficit de R$ 5,4 bilhões para 2015. O governo não chegou a comentar essa disparidade de números.

O PGQP e os eixos e diretrizes estratégicas do governo Sartori

Na reunião de quarta-feira, os técnicos do PGQP discutiram com os integrantes do governo os principais eixos e diretrizes estratégicas que vão nortear a atuação do governo na atual gestão. O governador Sartori, segundo o Piratini, teria feito sugestões a esse plano de trabalho. Não foram divulgadas quais foram essas sugestões.

A transferência da definição do plano de gestão do governo estadual para o PGQP não é uma novidade na história política recente do Rio Grande do Sul. A era do PGQP atravessou o governo Rigotto, chegou ao governo Fogaça, em Porto Alegre, e prosseguiu no governo Yeda Crusius, combinado com o anunciado “novo jeito de governar”. Em 2007, logo no início do seu governo, a então governadora Yeda Crusius reuniu todo o secretariado para discutir o andamento do convênio do Estado com o Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade.

No dia 6 de agosto de 2007, Yeda Crusius reuniu-se com o empresário Jorge Gerdau Johanpetter e representantes do PGQP para analisar os planos de gestão implementados pelo governo. “Espetacular! O trabalho está perfeito, excelente”, disse Gerdau. (Foto: Jefferson Bernardes/Palácio Piratini)

No dia 6 de agosto de 2007, Yeda Crusius reuniu-se com o empresário Jorge Gerdau Johanpetter e representantes do PGQP para analisar os planos de gestão implementados pelo governo. “Espetacular! O trabalho está perfeito, excelente”, disse Gerdau. (Foto: Jefferson Bernardes/Palácio Piratini)

No dia 6 de agosto de 2007, Yeda Crusius reuniu-se com o empresário Jorge Gerdau Johanpetter e representantes do PGQP para “analisar os trabalhos já realizados de acordo com critérios do programa, além de conhecer a metodologia de ação do governo”. Na época, Gerdau definiu assim o trabalho que estava sendo realizado: “Espetacular! O trabalho está perfeito, excelente”.

Esse trabalho prosseguiu ao longo do governo Yeda e, em 2010, o Governo do Estado e o PGQP renovaram o convênio para dar continuidade ao “projeto de modernização da Gestão Pública no Rio Grande do Sul”. No dia 18 de maio de 2010, Yeda Crusius e Jorge Gerdau assinaram a renovação do contrato de parceria entre o Governo e a entidade até o final daquele ano. “Estamos em um momento de consolidação de conquistas, e a renovação da parceria com o PGQP, que foi fundamental para o equilíbrio das contas públicas, está inserida neste contexto”, disse Yeda na época.

Os resultados desses convênios com o PGQP até hoje são desconhecidos pela maioria da população do Rio Grande do Sul. Agora, no governo Sartori, o programa capitaneado por Jorge Gerdau terá mais uma oportunidade de colocar em prática o que a sua filosofia define como uma de suas metas principais: “Existem diversas maneiras de transformar nosso mundo num lugar melhor para se viver. Não existe nenhuma receita mágica ou fórmula secreta. O que existe mesmo são pessoas determinadas a fazer isso acontecer”.

(*) Publicado originalmente no Sul21.

Sobre maweissheimer

Bacharel e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalho com Comunicação Digital desde 2001, quando foi criada a Agência Carta Maior, durante a primeira edição do Fórum Social Mundial. Atualmente, repórter no site Sul21 e colunista do jornal Extra Classe.
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