Todo poder emana do… dinheiro

CORRUP~1 Por Lauro Almeida (*)

Ligo a TV às 8 e meia da noite, coloco na Globo e pronto! Posso estar certo de que serei muito bem informado sobre a Operação Lava Jato. “Só que não!”, como dizem meus alunos por aqui quando querem ironizar. Em poucos minutos ouço pronunciamentos de advogados “sérios” defendendo as maiores empreiteiras do país. Dizem eles que seus clientes realmente cometeram alguns deslizes. Mas que fizeram isso porque foram praticamente forçados por agentes públicos corruptos a comprar licitações de mega-obras públicas. Caso contrário, não conseguiriam “fazer o seu trabalho” (risos!). Na sequência, William Bonner concorda. O PSDB lança uma nota na mesma linha, dizendo que quer saber quem foram os agentes públicos responsáveis por toda essa roubalheira. Pronto! Está montado o circo onde nós estaremos fadados a sermos os palhaços.

Desde muito cedo aprendi que o mundo atual é movido pelo dinheiro. Não é a escola que ensina isso: são as vitrines, os presentes de aniversário, o tio do mercadinho da esquina. Essa é a sociedade de mercado, tão elogiada, onde tudo tem seu preço. Se você tem dinheiro, tem “poder de compra”, diz o economista Sardenberg no Jornal Nacional. Essa é a mais pura verdade.

Mas o poder do dinheiro vai muito além da compra de mercadorias. Sardenberg esqueceu de dizer que o dinheiro compra também o poder. Vemos isso todos os dias e geralmente não nos damos conta. Ora, quando a elite financeira não confia num candidato à Presidência da República o que acontece? O mercado acorda de “mau humor”, como diz o William Waack, “fica nervoso”, e a cotação da bolsa de valores de São Paulo (Bovespa) fecha o dia em baixa. Pronto, está feito o estrago. Imediatamente o candidato (ou a candidata) precisa moderar o seu discurso para agradar os credores.

A mão invisível do dinheiro é ardilosa. Quando achamos que estamos em plena democracia, elegendo livremente nossos representantes no Congresso, descobrimos que as 10 empresas que mais dinheiro “investiram” nas eleições levaram ao Congresso cerca de 70% dos Deputados. Mas onde fica o livre-arbítrio dos cidadãos? Fica em algum lugar perdido no caminho entre o marketing pesado das propagandas eleitorais quotidianas e os botões da urna.

Mas isso tudo não existe para os advogados das empreiteiras corruptoras, nem para a Rede Globo. O que eles nos dizem é (pasmem!) as empreiteiras multinacionais mais poderosas do país foram praticamente coagidos por agentes públicos corruptos que cobravam propina em troca de licitações. Fico até confuso: quem afinal corrompeu quem? Mais um pouquinho e começo a ficar com pena do pobre presidente da OAS ou da Camargo Correa. Essa historinha não me convence. Aliás, poderia até contá-la ao contrário, pra parecer mais verossímil: o representante da empreiteira vai até os agentes públicos e pede para esses “darem um jeitinho” para que o resultado da licitação seja favorável. Como o esquema dá certo, decidem montar um cartel e passam a abocanhar todas as licitações. Em troca, o funcionário público, que sabe muito bem como o mundo funciona, é claro, aproveita para receber uma gorda retribuição em dólares. Qual a história mais convincente, a minha ou a dos advogados das empreiteiras?

Mas apesar da curiosidade que nos desperta, tudo isso por incrível que pareça não tem praticamente nenhuma importância. O que importa realmente é aproveitarmos essa oportunidade histórica para entendermos como o sistema realmente funciona. Se é verdade que o mundo de hoje é movido pelo dinheiro, é evidente que os corruptores são aqueles que detêm o capital, o dinheiro. Não há meio termo. Mas a grande mídia não pode dizer isso, pois dizer isso significa colocar em risco toda a credibilidade desse sistema político. Ao contrário, a mídia corporativa vem trabalhando todos os dias para achar um culpado de todo esse “lamaçal”. Busca um bode expiatório bem fedorento para colocar em cima da mesa e dizer: Viu, a culpa é dele! E que de preferência seja do PT. Esse é o circo que estão tentando montar.

Não nos enganemos, enquanto o dinheiro for o senhor soberano da política no Brasil este não será nem o maior, nem o último caso de corrupção que veremos. Não foram meia dúzia de mal intencionados que construíram esse sistema do jeito que está. Essa meia dúzia não passam, na verdade, de grandes aproveitadores corruptos que viram uma oportunidade de tornarem-se, também eles, burgueses vinculados ao Estado.

Não há remendo que possa ser feito dentro do Congresso Nacional para limpar esse sistema corrupto. Não há CPI que consiga resolver esse problema. Só a mobilização popular poderá colocar em xeque o poder do dinheiro. Só uma Assembleia Constituinte Soberana será capaz de enfrentar o poder do capital e recolocar em vigência no Brasil aquele velho princípio do filósofo Rousseau: “Todo poder emana do povo”.

(*) Professor

Sobre maweissheimer

Bacharel e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalho com Comunicação Digital desde 2001, quando foi criada a Agência Carta Maior, durante a primeira edição do Fórum Social Mundial. Atualmente, repórter no site Sul21 e colunista do jornal Extra Classe.
Esse post foi publicado em Política e marcado , . Guardar link permanente.

Uma resposta para Todo poder emana do… dinheiro

  1. paulodarocha disse:

    e o tal de gilmarmendes, descaradamente, com aquela honorável bunda sentada num processo que ja estava decidido antes das eleições,….7 a 1 senão me engano,…..p

Deixe um comentário