É só o começo do desconto do cheque em branco

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Renato Dalto (*)

Passou a campanha eleitoral para o governo do estado e, como era previsto, José Ivo Sartori, que é do PMDB mas que na campanha escondia o partido, foi o eleito. Chegou a ser constrangedora a falta de propostas, as evasivas do candidato e o sentido acaciano de afirmações como esta: “Vou fazer o que precisa ser feito”. Num exercício de dialética do absurdo, poderia se fazer a seguinte pergunta ao candidato: “E o que o senhor vai fazer com o que não precisa ser feito?”. Mas, enfim, os eleitores preferiram atropelar a razão, esquecer a política e votar dizendo não ao PT. Assinaram o cheque ao homem que ia fazer o que precisa ser feito. É uma frase lapidar, tão sabia como aquela que ensina que pra viver é preciso respirar.

O Rio Grande respira agora o ar da incógnita. E nem foi preciso começar o governo para o cheque em branco que a população passou a Sartori começar a ser descontado. Começa com o primor dos deputados da base do novo governo votarem sem vergonha e sem rubor o auto-benefício da aposentadoria especial. Entre eles estava a primeira-dama do novo governo, deputada estadual Maria Helena Sartori(PMDB), que seguindo a máxima do marido fez o que precisava ser feito: votou pelo próprio privilégio.

Escrevi há algum tempo neste espaço sobre o cansaço de estar sendo tratado como idiota por esse partido pródigo em vazio programático e oportunismo marqueteiro, que já elegeu governador com música de creche falando em coraçãozinho e que repete o tom da política infantilizada servindo à população um lero lero de bom gringo que, sorrateiramente, pegou a esteira do ódio ao PT. Foi esse ódio que catapultou o gringo bonzinho ao governo. Ódio cego, surdo e mudo. E, obviamente, destruidor.

O ciclo do governo que está se inaugurando é o do não sabemos, vamos ver, pode ser ou não e um rosário de indefinições. Revelam-se, sub-repticiamente nas notícias, alguns traços da antiga liturgia política do governador que ouve nomes, fala na prerrogativa das escolhas e manda recados sutis, como o de que a melhor maneira de queimar um nome é começar a falar nele. O que se vê, no fundo, é muita claque e pouca música. É bom avisar que depois de primeiro de janeiro, quando o governo começar, vai ter que acabar esse sambinha de uma nota só: a nota que sola resmungos de não sei e vamos ver.

No chão de realidade, o primeiro aviso: este é um governo da velha política de apropriação do Estado, da manutenção dos privilégios, da cara de pau de quem sorri ao público mas tem uma faca no bolso. No outro bolso, um cheque em branco. Descontado em suaves parcelas de frustração à população ao longo de 48 meses. O prazo nem começou a contar e parte do cheque já sai do bolso para dar soldo a deputados oportunistas e irresponsáveis. O preço de votar no vazio é caro. Muito caro.

(*) Jornalista

Sobre maweissheimer

Bacharel e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalho com Comunicação Digital desde 2001, quando foi criada a Agência Carta Maior, durante a primeira edição do Fórum Social Mundial. Atualmente, repórter no site Sul21 e colunista do jornal Extra Classe.
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2 respostas para É só o começo do desconto do cheque em branco

  1. Nelson disse:

    Como povo mais politizado das terras tupiniquins, já conseguimos colocar no Palácio Piratini gente que dispensa comentários, tais como Antônio Britto e Ieda Crusius e, por último, o gringo boa praça e bom coração ali da Serra.
    O que teríamos feito se não fôssemos os mais politizados, eu nem quero pensar.

  2. Sartorão Zueiro disse:

    Republicou isso em Sartorão Zueiroe comentado:
    Do RS Urgente.
    O ciclo do governo que está se inaugurando é o do não sabemos, vamos ver, pode ser ou não e um rosário de indefinições. O que se vê, no fundo, é muita claque e pouca música. É bom avisar que depois de primeiro de janeiro, quando o governo começar, vai ter que acabar esse sambinha de uma nota só: a nota que sola resmungos de não sei e vamos ver.

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