Descoberta a cura para o bolsonarismo: disseminar conhecimento, solidariedade e compaixão

Posto de Saúde Modelo, Porto Alegre: SUS está na linha de frente dessa batalha em defesa da vida. (Foto: Luiza Castro/Sul21)

Não, não se trata de aprender a “usar o whatsapp” como grupos de extrema-direita passaram a fazer em vários países, como se viu com a eleição de Bolsonaro no Brasil. Não se trata, tampouco, de desenvolver uma nova forma de linguagem para falar com as pessoas que foram contaminadas com o vírus bolsonarista, causador de enfermidades como ódio, intolerância, racismo, obscurantismo e violência. A mudança de percepção que a pandemia do coronavírus está provocando mostra que a cura para essa doença já está à nossa disposição há muito tempo. O título desse texto fala em “descoberta”, mas, na verdade, é mais a recuperação de uma lembrança, de um aprendizado coletivo. A “cura” é antiga como a história da humanidade e já foi empregada em outras ocasiões para derrotar doenças similares. Ela está na ciência, no conhecimento, na solidariedade, na compaixão, no sentimento de comunhão e pertencimento à humanidade.

Além das imagens de dor, angústia e morte que estamos presenciando todos os dias, em vários cantos do mundo, outras imagens apontam para a direção da cura: gestos de solidariedade, amor, amizade, abnegação, doação e mesmo sacrifício das próprias vida em defesa do próximo e da ideia de humanidade. Em outras ocasiões da história, quando o pior do humano aflorou, chegando e mesmo ultrapassando os limites do humano, o melhor reagiu, não necessariamente por uma motivação moral, mas por uma questão de sobrevivência. Com a pandemia do coronavírus, espalhando-se pelo planeta chegamos a um cenário similar aquele do final da série Game of Thrones: uma batalha dos vivos contra os mortos. E, por toda parte, de diferentes formas, os defensores da vida estão cerrando fileiras para enfrentar os propagadores da morte.

Não é preciso tampouco nenhuma análise de conjuntura sofisticada para aprender o caminho da “cura”. A velha oração de São Francisco é suficiente: onde houver ódio, leve o amor, onde houver erro, leve a verdade, onde houver desespero, leve a esperança, onde houver tristeza, leve a alegria, onde houver trevas, leve a luz. O bolsonarismo é forte e tem enraizamento social, mas tem uma grande fragilidade. Como os vampiros, ele tem aversão à luz. Não suporta a luz do conhecimento, da solidariedade e da compaixão. É dissolvido por elas. O mesmo vale para o ideário neoliberal que ergueu o egoísmo, a idolatria do consumo e do lucro, do individualismo, do “empreendedorismo individual” à condição de verdades sagradas. Esse bezerro de ouro também começa a ruir.

Pode ser uma batalha de longo prazo, mas as armas para vencê-la estão aí, sempre estiveram. É preciso confiar nelas e empregá-las em todas as frentes, em todas as plataformas tecnológicas, em todos os espaços sociais, por onde for. Fé no conhecimento e na verdade. Compromisso com a solidariedade, a compaixão e a empatia com todos os seres vivos. Confiança naquilo que de melhor a humanidade já produziu e ajudou a atravessar períodos de trevas. Não há nenhuma garantia de vitória. A morte pode vencer. Mas isso só ocorrerá se perdermos a fé naquilo que temos de melhor em cada um de nós e no nosso doloroso e acidentado aprendizado como humanidade.

Sobre maweissheimer

Bacharel e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalho com Comunicação Digital desde 2001, quando foi criada a Agência Carta Maior, durante a primeira edição do Fórum Social Mundial. Atualmente, repórter no site Sul21 e colunista do jornal Extra Classe.
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