A disputa por cérebros cresce no mundo

fugadecerebros190 O Brasil tem uma necessidade urgente de construir políticas públicas voltadas para a atração e retenção de profissionais qualificados em áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional. Não se trata de provocar o aumento da competição para os trabalhadores no mercado brasileiro, mas sim de promover o desenvolvimento de indústrias estratégicas e o avanço na área de ciência, tecnologia e inovação, reconhecendo a imigração como um fator de desenvolvimento de capital humano. A conclusão é do estudo “Imigração como vetor estratégico do desenvolvimento socioeconômico e institucional do Brasil”, realizado pela Fundação Getúlio Vargas, e que recomenda ao governo brasileiro a adoção de políticas voltadas para a atração de imigrantes altamente qualificados.

A pesquisa adverte que “com o recente aumento dos investimentos governamentais em educação e desenvolvimento de pesquisa de ponta no Brasil, o país corre o risco da chamada ‘drenagem de cérebros’ (brain drain)”. O problema não é uma exclusividade brasileira. O estudo da FGV aponta que a escassez de recursos humanos é um dos principais gargalos que ameaçam o desenvolvimento econômico dos países do grupo dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). “O Brasil padece hoje da falta de investimentos adequados em educação nas décadas precedentes, uma vez que os investimentos em educação possuem caráter incremental e levam tempo para gerar resultados. A atração de imigrantes altamente qualificados pode permitir suprir o déficit de investimento adequado em educação do passado, de modo a tirar melhor proveito do ‘bônus demográfico’”, diz ainda o estudo.

Essa vantagem potencial do Brasil reside no fato de que o país vem se tornando nos últimos anos um destino cada vez mais atraente para migrantes. A pesquisa da Fundação Getúlio Vargas assinala que o país “tem recebido uma quantidade crescente de imigrantes com níveis medianos de qualificação, que aumentam a massa crítica do país e geram benefícios para algumas indústrias, mas que, em alguns casos, disputam vagas escassas com a mão de obra nacional”. Por outro lado, acrescenta, “é ainda relativamente tímido o número de imigrantes altamente qualificados, aptos a ocupar vagas para as quais faltam trabalhadores nacionais e, desse modo, acelerar o desenvolvimento de novas indústrias”. Para suprir essa lacuna estratégica para o desenvolvimento do país, a pesquisa da FGV sugere, entre outras medidas, a criação de uma agência específica para a atração de mão de obra altamente qualificada.

O estudo da fundação contextualiza esse tema dentro do cenário da conjuntura internacional. Qual é esse contexto: a disputa por “cérebros” hoje é um fenômeno que ocorre em escala mundial, favorecida e estimulada pela redução nos custos de transporte e pela popularização massiva de novas tecnologias de telecomunicação. Além das facilidades, há também a agenda das dificuldades que estimulam os fluxos migratórios hoje em escala global: conflitos e opressão política, crises econômicas, catástrofes ambientais, perseguições étnicas e religiosas, entre outros problemas.

O aumento do número de migrantes no mundo

O número de pessoas circulando hoje pelo planeta, pelos motivos citados acima, é espantoso. Segundo o relatório de 2009 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), existiam cerca de 195 milhões de migrantes no mundo em 2005, o que representa cerca de 3% da população mundial. Em 2010, esse número subiu para 214 milhões, entre os quais 128 milhões teriam como destino os chamados países desenvolvidos. Um outro estudo, realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2011, aponta um aumento da situação da vulnerabilidade desses imigrantes, que enfrentam uma crescente hostilidade por parte da população dos países receptores. O aumento preocupante da xenofobia na Europa, estimulado pelo crescimento expressivo do desemprego, é uma das faces mais graves desse cenário.

Se, por um lado, os governos das maiores economias do mundo hoje são pressionados internamente por deter o ingresso de imigrantes, por outro, eles adotam políticas permanentes para a “atração de cérebros”. O estudo da FGV aponta que diversos países africanos exportaram nos últimos anos mais de 20% de seus habitantes com diploma universitário, apenas para países da OCDE. Citando levantamento realizado pelo pesquisador Franklin Goza, um estudioso de fenômenos de imigração envolvendo o Brasil, de 1996 a 2006, a emigração de brasileiros qualificados para os Estados Unidos aumentou 185%. Esses dados se referem principalmente a profissionais já formados que estudaram no Brasil ou se formaram no exterior, voltaram ao país e emigraram posteriormente.

Em um recente debate público, aponta ainda a pesquisa da FGV, o físico Michiu Kaku, famoso internacionalmente como autor da teoria dos campos de corda, afirmou que o Visto H-1B, concedido pelo governo dos EUA para viabilizar a contratação temporária de estrangeiros com grandes conhecimentos em determinadas áreas seria a “arma secreta” do sistema educacional norteamericano, sem a qual a economia dos EUA sofreria um risco de colapso.

Para enfrentar essa realidade, o governo brasileiro criou o Programa Ciência sem Fronteiras que concederá 75 mil bolsas de estudos até 2015, envolvendo bolsas para estudos no exterior e para pesquisadores visitantes especiais. Esse esforço, diz o estudo da Fundação Getúlio Vargas, é fundamental para o desenvolvimento do país, mas “precisa ser complementado por um conjunto de iniciativas que aumentem o número de bolsas para estrangeiros interessados em residir no Brasil e atrair os brasileiros qualificados no exterior de volta ao país”.

(*) Coluna publicada hoje no Sul21.

 

Sobre maweissheimer

Bacharel e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalho com Comunicação Digital desde 2001, quando foi criada a Agência Carta Maior, durante a primeira edição do Fórum Social Mundial. Atualmente, repórter no site Sul21 e colunista do jornal Extra Classe.
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Uma resposta para A disputa por cérebros cresce no mundo

  1. Ricardo Gundlach Schmitz disse:

    O Brasil tem que seguir o exemplo da Alemanha e do Japão. Investir em energia solar, eólica, biomassa, Conhecimento, indústria propria, autonomia ao inves de importar tudo. A India e a China estão investindo em escolas técnicas de produção de placas fotovoltáicas baratas. O Brasil tem que investir nisso ao invés de gastar milhões em energia nuclear. Nós temos sol. O hemisfério norte não tem e mesmo assim a Alemanha e o Japão já produzem em torno de 20 % da sua energia com placas fotovoltáicas!

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