
Jesús Sabariego: “Estão anulando a capacidade humana para resolver conflitos, para estabelecer escolhas, construir imaginários alternativos”. (Foto: Luiza Castro/Sul21)
Inteligência artificial, internet das coisas, tecnologia 5G, um admirável mundo novo está batendo à nossa porta. Será mesmo? Há quem desconfie de toda essa euforia tecnológica e chame a atenção para dois “detalhes”. Primeiro: qual é mesmo a indústria que está por trás dessa revolução tecnológica e quais seus interesses? Segundo: qual a nossa relação com essa tecnologia? Temos alguma soberania ou ela é totalmente submissa? Jesús Sabariego, professor da Universidade de Sevilha e pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra é um dos céticos a advertir uma dose de desconfiança e alerta em relação ao mundo novo prometido.
“O problema é que estão anulando a capacidade humana para resolver conflitos, para estabelecer escolhas, construir imaginários alternativos. Nossas máquinas com inteligência artificial vão resolver todos os problemas. Mas, por enquanto, o que vemos, porém, é uma profusão de conflitos bélicos e de outros conflitos que não considerados bélicos, com guerras civis encobertas, relações profundamente predadoras e coloniais de novo, guerras comerciais…É um cenário meio apocalíptico. Toda essa tecnologia está servindo para isso. Não é um espaço de libertação nem de emancipação”, afirma o pesquisador, que veio a Porto Alegre para fazer uma conferência na PUCRS e para participar 10º Congresso Internacional de Ciências Criminais – Memória e Ciências Criminais, que ocorrerá de 21 a 23 de outubro, também na PUC.
Historiador, Jesús Sabariego vem pesquisando a relação entre direitos humanos, tecnopolítica, violência e movimentos sociais na era das redes sociais. Em entrevista ao Sul21, ele defende a necessidade de uma mudança radical no modo pelo qual nos relacionamos com a tecnologia. Diante do uso que a extrema-direita vem fazendo dessas novas tecnologias para implementar sua estratégia política, Sabariego diz que o caminho para a esquerda e as forças progressistas não é simplesmente dominar essas ferramentas para fazer um contra-ataque:
“Se eles estão lançando fake news o tempo todo, vamos lançar mais do que eles, dizendo que os reaças estão comendo crianças ou algo assim, usando autobots, fazendas de likes, contratando hackers russos? Não é por aí. Precisamos de uma mudança radical na nossa relação com a tecnologia. A primeira coisa que precisamos entender é que precisamos nos apropriar da ferramenta. Precisamos nos apropriar dos modos de produção e dos meios de produção que, hoje, são os meios digitais.” (Leia aqui a íntegra da entrevista)