
Caroline Silveira Bauer: “Estamos vivendo uma conjuntura na qual não dá para ser neutro”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Qual o relato sobre a ditadura civil-militar, implantada no Brasil pelo golpe de 1964, foi escrito pela Comissão Nacional da Verdade? Quais as omissões e silêncios presentes nessa narrativa e em que medida eles impactam o presente político do país? Qual a responsabilidade dos historiadores frente a esses questionamentos? Essas são algumas das perguntas centrais abordadas pela historiadora Calorine Silveira Bauer, professora do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em seu livro “Como será o passado? Historia, historiadores e a Comissão Nacional da Verdade” (Paco Editorial), que será lançado na 63a. Feira do Livro de Porto Alegre, dia 2 de novembro, às 16h30min, na Praça de Autógrafos.
Autora do livro “Brasil e Argentina: Ditaduras, Desaparecimentos e Políticas de Memória” (publicação conjunta da Editora Medianiz e da Associação Nacional de História), Caroline Silveira Bauer trabalhou no Grupo de Trabalho Araguaia da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Para ela, o processo de anistia no Brasil não propiciou uma verdadeira reconciliação na sociedade, mas sim criou um mito, uma espécie de ideologia da reconciliação, segundo a qual o melhor para a sociedade brasileira seria seguir adiante e esquecer o que aconteceu no período da ditadura. Esse processo de construção do esquecimento, defende a historiadora, deixou conseqüências que se manifestam no presente político do país.
Em entrevista ao Sul21, a historiadora fala o seu trabalho e rejeita a visão segundo a qual o historiador deve buscar uma postura neutra e objetiva. “Durante muito tempo se defendeu, no âmbito da História, a necessidade de uma certa neutralidade e objetividade em relação ao passado. Os acontecimentos dos últimos anos talvez nos digam que essa neutralidade e essa objetividade abram precedentes para muitas coisas. Estamos vivendo uma conjuntura onde não dá para ser neutro”, afirma. Caroline Bauer também aborda possíveis analogias entre o que está acontecendo agora no pais e o período pré-64, assinalando que a experiência do golpe de 2016 nos ajuda a ver como o golpe de 64 e a ditadura que se seguiu foram sendo construídos paulatinamente. (Leia aqui a íntegra da entrevista)