Frei Sérgio Gorgen: ‘É estratégico para a humanidade o campesinato continuar vivo’

Frei Sérgio Gorgen: “Temos três prioridades: a prioridade um é sobreviver, a prioridade dois é sobreviver e a prioridade três é sobreviver”. (Foto: Maia Rubim/Sul21)

No governo de Fernando Henrique Cardoso, consolidou-se no Brasil um novo modelo de exploração do campo, assentado em uma poderosa estrutura de financiamento com acesso a capitais voláteis internacionais, que deu origem a um novo pacto de poder político no rural brasileiro. Com o passar dos anos, esses capitais, por meio de tradings e grandes multinacionais de insumos, passaram a controlar o grande mercado agrícola. Os grandes fazendeiros foram perdendo poder para o capital financeiro, sendo hoje sócios menores desse negócio. Trata-se de um modelo petrodependente que colocará a segurança alimentar do planeta em sério risco quando a escassez do petróleo aumentar. Esse é um dos principais diagnósticos do livro “Trincheiras da Resistência Camponesa” (Editora do Instituto Cultural Padre Josimo), de Frei Sérgio Antônio Gorgen, frade franciscano da Ordem dos Frades Menores do Rio Grande do Sul, ex-deputado estadual e militante há mais de 35 anos junto aos movimentos camponeses.

Em entrevista ao Sul21, Frei Sérgio fala sobre a origem e a situação atual desse modelo que segue dominante no campo brasileiro. Ele também aponta os desafios dos movimentos sociais do campo diante da atual conjuntura, destacando a importância estratégica do campesinato para a sobrevivência de toda a humanidade. “O modelo de agricultura do agronegócio é petrodependente. Do pneu do trator ao insumo agrícola é tudo feito com petróleo. Quando a escassez desse produto chegar a um patamar maior, um período que pode ser pensado entre 2030 e 2050, como é que esse modelo vai alimentar a humanidade?” – questiona.

Frei Sérgio cita um caso ocorrido recentemente no Brasil para defender a importância da agricultura camponesa. “Os capitalistas já previram o fim do campesinato há muito tempo mas, ao mesmo tempo, precisam dele. O fiasco do feijão no Brasil é um exemplo disso”, referindo-se ao movimento que deslocou a produção de feijão para médias e grandes propriedades, como alternativa à soja ou consorciada a ela. “Aí o preço da soja foi para 75 reais e os caras largaram mão de plantar feijão. O Brasil teve que importar feijão da Nicarágua e da China, em pleno governo Dilma. O preço foi às alturas. Agora, o feijão está se deslocando de novo para a pequena propriedade. O capitalista agrícola planta de acordo com os preços do mercado. Se a soja dá mais, ele larga o feijão. Está pouco se lixando se tem crise de abastecimento ou não”. (Leia aqui a íntegra da entrevista)

Sobre maweissheimer

Bacharel e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalho com Comunicação Digital desde 2001, quando foi criada a Agência Carta Maior, durante a primeira edição do Fórum Social Mundial. Atualmente, repórter no site Sul21 e colunista do jornal Extra Classe.
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